Artigo em colaboração com Fernanda Mendonça
A pesquisa anual da Grant Thornton revelou que o Brasil ocupa o 26º lugar no ranking global de diversidade de gênero em cargos de liderança, com apenas 23% de mulheres em cargos de liderança sênior. Esses dados refletem uma triste realidade global, onde as mulheres representam metade da população mundial, mas ocupam apenas 5,8% dos cargos de alta liderança.
A presença de mulheres em cargos de liderança é muito mais do que uma mera ocupação de cargos. Mudar essa estatística representa uma poderosa força para a construção de uma cultura mais inclusiva, diversa e com equidade para as mulheres dentro e fora do ambiente de trabalho.
De acordo com a revista Forbes as empresas com diversidade de gênero em cargos de liderança registraram um aumento notável nos lucros, na produtividade e no bem-estar como um todo da organização.
Apesar de tantos aspectos positivos, as mulheres ainda enfrentam obstáculos em suas jornadas para subirem no pipeline de liderança nas organizações. Desde o combate a preconceitos inconscientes, a superação de estereótipos de gênero, até a invisibilidade e a falta de representatividade na hora de comunicação com seus pares. O caminho para o topo continua complexo e exigente. O que estaria por trás disso?
As buscas para responder essa pergunta começaram lá na década de 1980…
Um artigo publicado no Wall Street Journal em 1987, intitulado e traduzido para: “O teto de vidro: por que as mulheres parecem não conseguir romper? “, foi um marco por abordar a questão da sub-representação das mulheres em cargos de liderança. As autoras Hymowitz e Schellhardt identificaram um paradoxo já desde aquela década: as mulheres estavam ingressando no mercado de trabalho em massa, mas ainda encontravam barreiras invisíveis que as impediam de alcançar cargos de liderança sênior.
É importante considerar que o artigo foi publicado em 1987 e o contexto social e profissional da época era diferente do atual. Porém, mais de 30 anos após a sua publicação, essa realidade ainda persiste, exigindo uma análise profunda e ações concretas para sua superação. Vamos refletir sobre isso?
Entendendo a expressão “Teto de Vidro”
O “teto de vidro” é uma metáfora utilizada para descrever as barreiras invisíveis que impedem as mulheres de alcançarem cargos de liderança e alta remuneração nas empresas. Apesar de terem qualificações e habilidades equivalentes aos homens, as mulheres frequentemente encontram obstáculos em seu progresso profissional.
Um artigo publicado pela Bain em 2023, mostra que no Brasil, dentre as mulheres no mercado de trabalho que não se sentem incluídas, apenas 24% acreditam que são promovidas para cargos de gerência na mesma velocidade que os homens. A pesquisa também mostra que elas têm 1,4 vezes mais chances de sofrer discriminação, assédio ou micro agressões no trabalho quando comparadas com os homens.
A responsabilidade do RH para a mudança dessa realidade
Combater o “teto de vidro” é um desafio coletivo que exige o compromisso de todos os setores da empresa, especialmente do RH. Esse tema também pode impactar diretamente a cultura organizacional e os desafios do setor de Recursos Humanos, limitando a diversidade e a inclusão nas empresas. Isso pode resultar em:
Perda de talentos: Mulheres qualificadas para cargos de gestão são desmotivadas e abandonam a empresa.
Dificuldades em atrair talentos: A falta de representatividade feminina torna a empresa menos atraente para as mulheres.
Ambientes de trabalho menos inovadores: A falta de diversidade de ideias limita a criatividade e a inovação.
Prejuízos à imagem da empresa: A empresa é vista como um local que não promove a igualdade de gênero.
Superar o “teto de vidro” exige um compromisso coletivo que envolve empresas, governos e a sociedade como um todo. A implementação de políticas de diversidade e inclusão, programas de mentoria e treinamentos de conscientização são medidas essenciais para promover a mudança.
A chave para alcançar esse objetivo está na construção de uma cultura de diversidade, equidade e inclusão.
E por falar em inclusão…
A pesquisa da Bain & Company comprovou que tanto na América do Sul quanto globalmente, a inclusão se destaca como a chave para o sucesso das empresas.
No artigo da Bain, a sócia da Organização, Luiza Mattos reforça essa importância:
“Nossa pesquisa mostra que, tanto na América do Sul quanto globalmente, a inclusão é sem dúvida uma alavanca essencial para atrair, reter e melhorar a performance de funcionários e times nas empresas. Em um momento no qual os talentos são o ativo mais importante e indispensável das organizações, garantir ambientes inclusivos está avançando rapidamente nas prioridades das pautas das lideranças”.
Com mais de 20 anos de experiência e mais de 100 empresas atendidas, convidamos a consultora Fernanda Mendonça para um bate papo sobre esse assunto.
No começo de nossa conversa, ela já nos convida a refletir: o que leva as colaboradoras a se sentirem incluídas nas empresas?
Segundo ela, o primeiro passo é a diversidade nas equipes. Quanto mais diversos o ambiente, maior o senso de pertencimento e inclusão. Ao abraçarmos a diversidade e a inclusão, construiremos um ambiente corporativo mais forte, mais inovador e mais humano. Um ambiente onde cada um, com suas próprias características, tem a oportunidade de brilhar e contribuir para o sucesso da organização.
Através de iniciativas proativas e uma cultura de inclusão, podemos construir um futuro mais justo para todos. Iniciativas como:
- Políticas de Diversidade e Inclusão: Criar e implementar políticas que promovam a equidade de gênero e a inclusão de mulheres em todos os níveis da empresa.
- Programas de Mentoria: Conectar mulheres experientes com mulheres em início de carreira para oferecer orientação e apoio.
- Treinamentos de Conscientização: Conscientizar os funcionários sobre os estereótipos de gênero e a discriminação no mercado de trabalho.
- Análise de Dados: Monitorar os dados de recrutamento, retenção e promoção para identificar e corrigir disparidades de gênero.
- Flexibilidade no Trabalho: Oferecer horários flexíveis e políticas de trabalho remoto para facilitar a conciliação entre vida profissional e pessoal.
- Cultura de Inclusão: Criar uma cultura de inclusão onde todos se sintam valorizados e respeitados, independentemente de seu gênero.
A responsabilidade dos homens:
Em nosso bate papo, Fernanda destacou também alguns pontos relevantes para combater as barreiras invisíveis que prejudicam as mulheres na ascensão profissional. Dentre os pontos citados, a importância dos homens como aliados na luta pela equidade de gênero. Eles podem contribuir ao:
- Perceber e repreender estereótipos e barreiras de gênero.
- Combater xingamentos e comentários sexistas em conversas informais.
- Se posicionar contra o “mansplaining” e o “mansinterrupting”.
- Repreender piadas e brincadeiras que reforçam estereótipos de gênero.
“Xingamentos ligados a beleza ou a ideais ligados ao gênero feminino ainda são amplamente reforçados em conversas informais dentro das organizações. Se você é homem e está ouvindo alguém que está usando uma palavra ou uma expressão que pode ser considerada ofensiva, estereotipada, é muito importante que os homens possam repreender os colegas e trazer a conscientização”, comenta Fernanda.
É importante percebermos que a voz de um homem repreendendo um outro homem, infelizmente, ainda tem um outro peso. Ao perceber piadinhas ou brincadeiras, como: “deve estar na TPM, ou estar naqueles dias,” “tinha que ser mulher” “falou que nem um homem agora”, um homem aliado da equidade de gênero, se posiciona, usa a sua voz, usa seu lugar de privilégio para combater.
Impulsionar a carreira das mulheres
Dar oportunidade, dar voz, construir pontes para que as mulheres consigam estar e pertencer a reuniões mais estratégicas também é uma outra forma importante para melhorar essa situação. Convidar as mulheres para que elas participem das tomadas de decisão das organizações pode mostrar outros pontos de vista a serem considerados.
“Tem muita empresa em que o comentário é que as mulheres são promovidas, mas que elas depois não aguentam a pressão. Mas será que essa pressão está sendo igual? Será que não tem assédio, micro agressão? Será que o que as mulheres não estão aguentando é mesmo o trabalho?” Indaga a consultora.
Mulheres, vamos nos unir!
Aqui a palavra central é sororidade, como podemos tornar o caminho mais fácil para que as mulheres estejam e ocupem os lugares que desejam? Em primeiro lugar, combatendo a competição entre si, que é um cabo de guerra de gênero importante de destacar. Como a representatividade é baixa, mulheres que ocupam o lugar de poder às vezes querem se perpetuar nessa posição e podem acabar reforçando a competitividade feminina.
Empresas que valorizam a representatividade feminina demonstram compromisso com a igualdade de oportunidades e com a construção de um futuro melhor.
Através da diversidade de perspectivas e experiências, as mulheres líderes contribuem para a criação de ambientes mais inovadores, colaborativos e resilientes. Que nesse #MêsdasMulheres, para além das ações corporativas de homenagem e agradecimento, que possamos refletir e conscientizar sobre programas e formas para quebrarmos o “teto de vidro”, a barreira invisível que prejudica a sociedade de alcançar mais equidade, inclusão e crescimento para as organizações.
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Referencias utilizadas para a construção desse artigo:
McKinsey & Company: https://www.mckinsey.com/featured-insights/diversity-and-inclusion/women-in-the-workplace
CARNEIRO, Luziberto Barrozo. Teto de vidro: um estudo sobre os fatores deste fenômeno no brasil sob a percepção das mulheres gestoras. 2018. Dissertação de Mestrado.
FORBES, 2022, As empresas têm sucesso com mulheres na liderança, é hora de tornar o local de trabalho mais equitativo para as mulheres. Link: https://www.forbes.com/sites/karadennison/2022/12/15/businesses-succeed-with-women-in-leadership-its-time-to-make-the-workplace-more-equitable-for-women/?sh=30d849b91aa8
Bain Company: https://www.bain.com/pt-br/about/further/diversity-equity-inclusion/dei-report/2022/