Em meio às flores, homenagens e mensagens carinhosas da semana das mães, é preciso fazer uma pausa na celebração para refletirmos sobre maternidade e liderança no Brasil.
Por trás de cada história de sucesso do universo corporativo feminino, uma questão velada insiste em aparecer: à medida que as mulheres avançam na carreira, adiamentos e renúncias à maternidade se tornam cada vez mais frequentes.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a consultoria Mercer, revelou que apenas 18% das mulheres em cargos de liderança no Brasil têm filhos, frente a 35% dos homens nas mesmas posições.
Uma outra pesquisa realizada no Brasil pelos pesquisadores Cecilia Machado e V. Pinho Neto, da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas, mostra que 48% das mulheres que saem de licença maternidade perdem o emprego um ano após o início do benefício.
O avanço profissional feminino vem, ainda hoje, acompanhado de um dilema profundo: ser mãe pode, sim, infelizmente, ainda representar um impeditivo real à ascensão, dentro de empresas que oferecem pouco espaço para escolhas verdadeiramente conectadas com o ser humano.
O teto de vidro permanece intacto
Em março deste ano, publicamos um artigo sobre o “teto de vidro” — aquela barreira invisível que, mesmo sem ser formalmente declarada, impede tantas mulheres de alcançarem posições de liderança nas organizações. No artigo destacamos que, em todo o mundo, mesmo com os avanços conquistados ao longo do tempo, as mulheres ainda ocupam apenas 32,2% dos postos de alta liderança, conforme nos mostra um estudo de 2023 do Fórum Econômico Mundial sobre a desigualdade de gênero.
Esse teto de vidro é formado, em grande parte, por vieses que moldam nossa percepção de maneira sutil e automática.
Mas o que é um viés?
De forma simples, viés é uma tendência, muitas vezes inconsciente, de favorecer ou desfavorecer pessoas ou situações com base em estereótipos, experiências passadas ou expectativas culturais. No contexto do mercado de trabalho, esses vieses podem influenciar decisões de contratação, promoção e reconhecimento.
Um dos mais presentes é o viés da maternidade: a ideia pré-concebida de que mulheres com filhos são menos comprometidas, menos disponíveis ou menos competentes profissionalmente.
Esse estereótipo faz com que mães enfrentem mais desafios para crescer na carreira, resultando em oportunidades desiguais e penalizações injustas. Reconhecer e debater esses vieses é um passo essencial para quebrar o teto de vidro e abrir espaço para que mulheres — com ou sem filhos — possam ocupar seu lugar de liderança.
Entenda outros vieses:
Já para o homem, é bem diferente….
Paradoxalmente, a paternidade é vista no universo corporativo com outros olhos. Homens pais são percebidos como mais comprometidos, muitas vezes recompensados com aumento de salário, posicionados como modelos de dedicação. Já para as mães, o caminho é o inverso, ainda que inúmeros estudos mostrem o contrário: que mulheres, mesmo sob jornadas duplas, são altamente qualificadas, resilientes e produtivas.
A penalização da maternidade não reflete a realidade do potencial que mães-líderes entregam.
Mulheres seguem investindo em formação, acumulando resultados e inovando em diferentes setores — e, mesmo assim, são pressionadas a “escolher”: ou carreira, ou filhos. Quantos talentos e trajetórias brilhantes estamos perdendo por falta de flexibilidade, acolhimento e reconstrução de paradigmas?
Maternidade: potência ou ameaça à liderança?
É preciso inverter a lógica: a maternidade não deveria jamais ser vista como um obstáculo, mas como um diferencial capaz de fortalecer lideranças. Mães desenvolvem no cotidiano habilidades que fazem toda a diferença nos cargos de liderança:
- Empatia e inteligência emocional: O exercício diário de se colocar no lugar do outro para cuidar e educar constrói relações de confiança e ambientes de trabalho mais colaborativos e inspiradores.
- Gestão de tempo e prioridades: Conciliar múltiplos papéis exige organização, foco e delegação, tornando a liderança mais produtiva e eficiente.
- Comunicação eficaz: A rotina de educar filhos aprimora clareza e assertividade, essenciais para alinhamento de equipes e orientações estratégicas.
- Resiliência e adaptação: O dia a dia das mães é repleto de desafios e mudanças, o que fortalece a criatividade e a habilidade de encontrar soluções rápidas em ambientes complexos.
- Tomada de decisão sob pressão: Decidir rapidamente em situações críticas se torna natural, refletindo-se em uma liderança mais ágil e segura.
O que nós acreditamos
O ambiente corporativo que exige e celebra jornadas “sem fim”, que enxerga disponibilidade integral como sinônimo de competência, é um sistema pronto para ser repensado — e precisa se reestruturar, criando mecanismos de flexibilidade, trabalho humanizado, licença parental equilibrada e cultura de respeito e inclusão.
Na Iluminatta acreditamos que mães-líderes são, na verdade, exemplos poderosos de competência, resiliência, criatividade e inspiração. Valorizá-las, acolhê-las e promover suas trajetórias é não apenas uma questão de justiça social, mas uma necessidade estratégica para organizações que desejam inovar, crescer e criar ambientes verdadeiramente humanos.
Na semana do Dia das Mães, celebramos não só o cuidado, mas a força da mulher que ocupa espaços — e, especialmente, da mãe que lidera. Que possamos, cada vez mais, construir ambientes onde nenhuma mulher precise renunciar a ser mãe para liderar, nem ser menos líder para ser mãe.
O futuro das organizações passa, necessariamente, por valorizar e aprender com lideranças femininas e maternas.
Está na hora de enxergar, acolher e promover quem tem a coragem de liderar com todo o seu ser — inclusive sendo mãe.
Qual a sua opinião sobre esse assunto?
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